Noite das Desgarradas

No salão Nobre da Casa do Alentejo o MDC Media Group e Camões Entertainment realizou-se aquela que terá sido uma das melhores Noites de Desgarradas a que tivemos o prazer de assistir nos últimos tempos.

A Casa do Alentejo em Toronto recebeu Jorge Salgueiro, Pi D’Areosa, Cristiana Sá e Jorge Martins para uma noite de cantoria ao desafio.

Os artistas vindos de Portugal, com Augusto Bandeira a desempenhar as funções de Mestre-de-cerimónias, mostraram uma qualidade fabulosa, muito ao gosto de todos aqueles que encheram por completo a enorme sala da Casa do Alentejo.

Foi um espetáculo digno de ser visto e merecedor do grande aplauso dos espetadores.

Desgarrada, é uma cantiga popular em que os cantadores vão improvisando, desafiando e respondendo um ao outro, normalmente ao som de concertina. Para além de “Desgarradas”, também recebem denominações de Cantares ao Desafio, Cantigas ao Desafio, Cantigas à Desgarrada, etc..

O termo também é utilizado para caracterizar uma forma de interpretação de fado, neste caso com acompanhamento de viola e guitarra portuguesa, com reconhecidos intérpretes como Fernando Maurício ou Vicente da Câmara.

Entre os artistas que gravaram desgarradas podemos encontrar nomes como Quim Barreiros, Augusto Canário ou até Jorge Ferreira, que por várias vezes visitou este género, para além claro do fabuloso Jorge Martins, muito ao jeito do Augusto Canário.

Ligadas a ocasiões festivas, como romarias, feiras, desfolhadas, serões, etc., ou em Encontros de Cantadores, as desgarradas podem eventualmente ser escutadas em todo o país, embora as tradições sejam mais profundas nas antigas províncias do Minho, no Douro Litoral e Beira Alta, como era o caso.

Nos cantares ao desafio, durante largos minutos, são abordados os temas como escárnio e maldizer, amor e ódio, fé e caridade, improvisando as rimas e respondendo, preferencialmente de forma jocosa, ao outro cantador, podendo ser encontradas origens trovadorescas.

É possível encontrar, numa edição de 1927, a seguinte referência à intervenção de uma cantadeira:

“[…] uma, cantando ao desafio, despicou-se assim quando o cantador lhe aludiu às sardas:
«Vós chamais-me lentejosa, – Foi Deus servido eu tê-las; Também o céu é bonito, – E mais tem suas estrelas!»”

Foi uma noite inesquecível aquela que Jorge Salgueiro, Pi D’Areosa, Cristiana Sá e Jorge Martins nos proporcionaram, com todos os elogios e aplausos para todos aqueles que foram responsáveis pela organização deste espetáculo.

ARO