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Dias intensos no Festival de Toronto

 

Por: Rui Tendinha – com a devida vénia

Rui no TIFF

Um festival sem obras-primas, nenhum favorito descarado para os Óscares como aconteceu em anos anteriores. Porém, o TIFF – Toronto International Film Festival — que terminou no passado domingo, 17 de setembro — continua com o habitual folclore das pré-campanhas da temporada dos prémios. Este ano, a primazia foram os filmes com histórias verdadeiras. Filmes com biografias de personalidades notáveis (primeiros-ministros, mulheres de negócios, atletas, pintoras, escritoras, jornalistas, etc). O prémio para melhor filme (o Groshl People’s Award) foi para Three Billboards Outside Ebbing, Missouri, de Martin McDonagh.

Mas é impossível não destacar o filme de abertura, Borg McEnroe, sobre a disputa em Wimbledon entre o sueco Björn Borg e o norte-americano americano John McEnroe. Um thriller psicológico disfarçado de sports movie da responsabilidade de Janus Metz, que conhecíamos da série True Detective.

Borg McEnroe, depois da Palma de Ouro em Cannes de The Square, é mais um triunfo do novo cinema sueco.

Igualmente impossível não priorizar o acontecimento que foi O Capitão, de Robert Schwentke, o realizador dos últimos filmes Divergent. Trata-se de uma história verdadeira sobre um massacre nazi num campo prisional no final da Segunda Grande Guerra. Exame de consciência ao descalabro moral dos alemães no final da guerra. Um tema tabu que o cinema alemão nunca antes tinha tocado. Foi preciso um cineasta alemão radicado em Hollywood para fazer um filme de choque que por certo vai criar um debate nacional. O Capitão tem uma ferocidade espantosa. Por incrível que pareça, ainda não foi vendido internacionalmente…

Cena dos filme Three Billboards Outside Ebbing

 

Curioso foi ver pelos corredores do festival a atriz portuguesa Joana Pais de Brito, uma das estrelas de A Fábrica de Nada, de Pedro Pinho. Começou aqui a conquista ao continente americano de um dos mais insolentes filmes portugueses. A classe operária portuguesa marcou pontos numa obra que mistura o cinema de ensaio, o musical e o doco-drama. A Fábrica de Nada é uma obra-prima que foi muito aplaudida em Toronto.

Desilusões claro que as houve, algumas delas já esperadas, como é o caso de Papillon, remake de Michael Noer, do clássico de Schaffer. Um aborrecidíssimo filme de prisão filmado sem ideias de cinema. Salva-se a interpretação de Charlie Hunman, que recentemente foi visto em A Cidade Perdida de Z. Hollywood continua a assassinar a sua memória… Enfim…

Na mesma linha de deceção foram vistos Mary Shelley, da saudita Haifaa Al-Mansour com Elle Fanning, um biopic demasiado convencional sobre a escritora de Frankenstein e Woman Walks Ahead, com Jessica Chastain, outro biopic menos convencional mas muito frouxo, neste caso sobre a pintora Catherine Weldon. Nem sempre as chamadas “mulheres emancipadas” dão bons retratos de cinema.

Festival que é festival revela realizadores. A atriz Gerta Gerwig estreou-se com Lady Bird e foi aclamada pela imprensa. Uma história sobre uma adolescente a ficar mulher que tem algo de autobiográfico. Diz-se que Saiorse Ronan tem a nomeação para o Óscar garantida mas a grande interpretação é a da secundária Laurie Metcalf. Outra estreia que causou estremecimento foi a de Aaron Sorkin com Molly’s Game. Jessica Chastain tem mais uma daquelas interpretações que já nos habitou. Um exemplo de como a palavra ainda pode ser o motor de suspense de um filme…

Quanto a cinema europeu, um dos destaques é Thelma, do norueguês Joachim Trier, uma provocação sobre a culpa cristã disfarçada de cinema de terror. Trier delicia-se com a ideia de experiência sensual com o corpo feminino. As feministas vão refilar mas o melhor cinema de transgressão tem de se borrifar para o politicamente correto.

Houve uma major americana que espantou, a Warner, sobretudo pela coragem de apresentar The Disaster Artist, de James Franco, a sua visão sobre o planeta Tommy Wiseau, o cineasta que fez The Room, por muitos considerado o pior filme de sempre. Franco faz um retrato apaixonado e respeitador sobre um artista sem talento. Uma comédia em formato biopic que funciona como tese a la Andy Warhol. Há muito que não via num festival de cinema tanta gargalhada e palmas pelo meio. Para já, ainda não tem data de estreia para Portugal mas é óbvio que vai ser um objeto de culto.

No campeonato da simpatia, Battle of the Sexes, de Valerie Faris e Jonathan Dayton, foi campeão. Outra “true story”, neste caso sobre um jogo de ténis entre uma campeã de ténis dos anos 70 e um tenista veterano. Emma Stone e Steve Carell são os atores de um sports movie que tem um objetivo muito claro: fazer-nos refletir sobre a igualdade de sexos nos EUA. O filme só tem peca por ser demasiado simpático…

Mas Toronto foi sobretudo um festival para mulheres. O festival com filmes onde se descrevem mulheres fortes, quase todas elas figuras reais. Convém também dizer que nesta edição um terço dos filmes são realizados por senhoras. O poder feminino está na ordem do dia em Hollywood mas podia estar bem menos formatado…

Inacreditavelmente, a imprensa canadiana e americana deixou passar ao lado Submergence, de Wim Wenders. Convém dizer que o cineasta alemão não perdeu o toque e que continua em forma. Contra tudo e contra todos, o seu Submurgence é uma obra urgente para compreender estes dias de fundamentalismos religiosos. Para mais, não tem medo em encenar um registo de thriller lento. O slowcinema é para ser degustado…

 

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