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Novíssimas e Híbridas Cartas Portuguesas

Maria Joao Dodman

Quando se fala da democratização portuguesa, raramente se menciona a primavera de 72. É nessa primavera que se publicam As Novas Cartas Portuguesas, livro escrito por três mulheres que passariam a ser internacionalmente reconhecidas como as três Marias. As autoras situam a freira Mariana do século XVII como figura representativa da condição feminina da mulher portuguesa na atualidade. Acusadas de pornografia e de corrupção moral do país, as Marias serão vitimizadas pela ditadura num processo judicial que só se revolverá após o 25 de abril. Por primeira vez, os olhos do mundo e o tribunal da opinião publica vê este pequeno país não como o tal jardim à beira-mar de gente humilde, mas felizarda nos seus pátios das cantigas, mas sim como um pais retrógrado e absurdo gerido por uma constituição que declarava igualdade para todos, excepto para a mulher. Apesar do grande escândalo internacional, o caso das três Marias que, ainda hoje é o único manifesto feminista português, foi desprezado a favor de outras causas. O facto é que o feminismo português continua a ser uma conversa elitista, um “problema” de ricas. Mudam-se as políticas mas não se mudam as mentalidades! E como nós, meus e minhas compatriotas, não viemos dessa elite, de nada nos valeu esse feminismo. Em 2018, vale a pena refletirmos sobre o passado das nossas mulheres e o nosso futuro. Ao celebrar o Dia Internacional da Mulher pensemos naquelas mulheres da nossa comunidade; aquelas de rostos tristes, de olhos vazios e desesperados que se escondem por detrás de xailes negros; aquelas que passaram das mãos do pai para o marido sem qualquer poder de decisão; aquelas que deram à luz até à cova; aquelas que foram abusadas, vitimizadas por homens alcoólicos, desesperados, eles também vítimas, e elas, a última colónia, conquistada como qualquer colónia, a força da violência. Pensemos naquelas mulheres que encontramos na rua que nunca foram nem nunca irão a almoços do Dia Internacional da Mulher. Pensemos naquelas mulheres em que, aqui neste país, lhes foi negada igualdade pelos homens da nossa comunidade! À educação, à escolha de uma carreira profissional, a uma simples saída com amigas! Ajamos! Recusemo-nos a aceitar estas realidades! Aceitemos as novíssimas e híbridas missivas das nossas jovens mulheres. A elas, estas últimas palavras: sejamos como Maina Mendes, que pôs ambas as mãos sobre o corpo e deu um pontapé no cu dos outros legítimos superiores!

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