Comunidade

Ricardo Ribeiro esgota Casa do Alentejo “O destino baralha as cartas e nós jogamos”

Joana Leal

É uma das mais antigas da comunidade. A Casa do Alentejo de Toronto fez 35 anos e Ricardo Ribeiro foi a grande atração da noite. A Associação provou, que apesar das dificuldades, é possível continuar a divulgar aqui a excelência da cultura portuguesa.
O jovem lisboeta é apontado pela crítica como uma das grandes promessas do fado. O cantor confessou-nos que é um homem de muitas inspirações e que tem uma relação especial com coletividades.
Em entrevista ao Milénio Stadium, o fadista falou-nos de rebeldia, de renovação e de destino. Numa conversa descontraída Ricardo Ribeiro citou Schopenhauer “o destino baralha as cartas e nós jogamos” e disse que viver sem fado “é como cortar um dedo, posso viver sem ele mas nunca será o mesmo”.
As suas grandes referências musicais são alguns dos maiores nomes do fado. “O meu mestre é o Fernando Maurício. Mas tenho outras pessoas: Alfredo Marceneiro, Amália, Beatriz da Conceição, Maria José da Guia, são tantos…na vida um homem não deve ter só uma referência”, explica.
“Hoje é assim, amanhã não sei” é o título do seu quinto álbum. “É um trabalho simples. Um disco de fado e de guitarra portuguesa, com duas ou três canções ao piano. Mas é essencialmente um disco muito emotivo que foi inspirado num poema de Miguel Torga que se chama Orfeu Rebelde. Canta sobretudo a vida porque o fado é isso mesmo”, sublinha.
Tal como o poema, o fadista admite que é rebelde mas…no bom sentido do termo. “Rebelo-me contra aquilo que entendo que deve mudar. Muitas vezes faço-o contra mim próprio, o homem está em constante construção. Para citar Torga “canto como quem usa os versos em legítima defesa”.
Apesar do statu quo do mundo e do país, o fadista acredita que “amanhã há-de ser diferente”. “O mundo obedece a um determinado ritmo, a um certo compasso. Andamos muito ocupados com o quotidiano e com o dinheiro. Com os carros e com as casas. Coisas que fazem parte da vida mas que não definem a vida. Alguém um dia disse esta frase que eu gosto muito de citar: os músicos não devem dizer apenas aquilo que pensam mas aquilo que os outros não se atrevem a dizer”, alerta.
Classificado como Património Cultural e Imaterial da Humanidade desde 2011, o fado é acarinhado e estimado pela diáspora. “Tem aqui a prova disso. A Casa do Alentejo ou o Clube Português de Mississauga, creio que qualquer um deles organiza pelo menos uma noite de fados por ano. E isso é uma forma de tratar bem o fado, é ouvi-lo e estar com ele. Os portugueses é que fazem o fado e não o contrário”, defende.
Questionado sobre se o fado deve ou não evoluir, Ricardo responde-nos da seguinte forma: “Eu gosto muito da origem etimológica das palavras, evoluir vem do latim e significa uma pessoa que desembrulha um papiro. Então eu prefiro a palavra renovar. É melhor porque evoluir significa que as coisas passam a outro estado. As fusões e as misturas são importantes mas não podemos perder a raiz, a terra, o cheiro, o sal ou a pimenta. É uma questão de equilíbrio. Mas é possível renovar dentro da tradição.
Ricardo Ribeiro cresceu numa coletividade – o Sporting Clube do Rio Seco, na Ajuda, em Lisboa. É com saudade que recorda esses tempos da infância. “Nas associações há um grande espírito de ajuda. Eu fui criado no Sporting Clube do Rio Seco que hoje infelizmente tem poucas pessoas. Mas acho que as pessoas têm que estar cada vez mais ligadas umas às outras. É preciso ajudar o outro. Em Portugal às vezes falta espírito de união, de interajuda”, remata.
Ricardo Ribeiro começou a cantar aos nove anos e já participou em quatro filmes. “Fados” de Carlos Sauna, “Rio Turvo” de Edgar Pêra, “Filme do Desassossego” de João Botelho e “O Rei Sem Coroa” de Diogo Varela Silva.

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