Comunidade

Pride Toronto assinala 38 anos

A parada gay de Toronto juntou domingo centenas de pessoas na baixa da cidade. Este ano o Pride Toronto recordou as vítimas do alegado serial killer Bruce McArthur e assinalou os 35 anos de combate à sida.

Apesar da chuva, os carros alegóricos desfilaram pela Younge St, desde a Church-Bloor até ao Dundas Square e no ar reinava a tolerância e a boa disposição. Foi feito um minuto de silêncio em homenagem às vítimas LGBTQ e pelo segundo ano consecutivo a polícia não integrou a parada.

Foram mais de 120 grupos que agitaram bandeiras e que carregaram cartazes e vestiram t-shirts com várias mensagens. Mais amor, mais tolerância e mais igualdade é o que a comunidade LGBTQ defende.

Em janeiro deste ano, McArthur, jardineiro de 66 anos, foi acusado de ter morto oito homossexuais numa área gay de Toronto. Jorge da Costa, presidente do grupo lusófono LGBTQ Arco-Íris, foi um dos grupos que integrou a parada. Em declarações ao programa “Manhãs da Camões”, conduzido por Nuno Miller, da Costa disse ter feito parte da lista de McArthur. “Conheci-o num site de encontros gay. Ele organizava festas e era uma pessoa muito conhecida na comunidade gay. Chegámos a marcar um encontro, mas felizmente não chegou a acontecer. Duas das vítimas eram meus amigos”, revelou.

Jorge da Costa é homossexual e aprendeu muito cedo a lidar com a descriminação. “A minha família nunca me aceitou tal como sou. E a própria comunidade portuguesa ainda é muito conservadora. A homossexualidade não é uma doença e cada um de nós tem o direito a ser feliz”, contou.

No final da década de 80, Jorge descobriu que era seropositivo. “Na altura foi um choque, o médico deu-me seis meses de vida. Tenho uma carga vírica indetectável, o que significa que não transmito o vírus sexualmente. Cheguei a tomar oito comprimidos por dia, mas a ciência evoluiu muito e hoje tomo apenas um”, informou.

No Canadá uma em cada cinco pessoas é portadora de sida e em Portugal 1/3 dos infetados tem menos de 30 anos. Apesar dos avanços na educação sexual, há ainda quem tenha comportamentos de risco. “Ter sexo desprotegido é uma grande irresponsabilidade, é muito importante utilizar preservativo, mesmo quando tens uma relação estável. As pessoas erram, somos todos humanos”, alertou.

O Canadá tem feito um trabalho notável no tratamento de doentes com sida, é o caso do Casey House, uma instituição que surgiu em 1988. “Este centro foi o primeiro a tratar doentes com sida no Canadá. As pessoas são muito bem tratadas e ninguém é discriminado”, avançou.

Pela primeira vez em 15 anos, os liberais perderam o poder em Ontário, uma mudança que, na perspetiva do luso-canadiano, pode trazer alguns retrocessos. “Os liberais conseguiram avanços incríveis ao nível da saúde, tenho medo que os conservadores destruam o que conseguimos conquistar. Não se pode cortar na saúde, a saúde deve permanecer como bem público, não pode ser privatizada”, confessou.

O Canadá foi um dos primeiros países do mundo a legalizar o casamento entre pessoas do mesmo género, uma realidade que só aconteceu em Portugal em 2010. Na parada encontrámos Monique Jeffrey, uma canadiana que garante que ainda há muito a fazer nesta área. “A discriminação ainda existe, trabalho numa quinta onde as pessoas são muito religiosas e têm dificuldade em aceitar a diferença. Mas no dia-a-dia tento rodear-me de pessoas da comunidade LGBTQ. Demorou muito tempo até ter orgulho em mim própria por isso hoje estou muito feliz. Aconselho os pais a se sentarem e a ouvirem os filhos”, confessou.

Daniele Camila é brasileira e está no Canadá há poucas semanas. “No Brasil participei na parada de São Paulo e embora seja recém-chegada sinto que a cultura canadiana é diferente, as pessoas são mais tolerantes e mais abertas”, referiu.

Paulo Mendes é luso-canadiano e considera que “as pessoas têm que ter mais amor no coração e pensar no próximo. É muito importante respeitar a diversidade”.

O Pride Toronto assinalou 38 anos e o desfile durou várias horas.

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