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O escritor David Machado em Toronto: Lançamento de DEBAIXO DA PELE na Casa do Alentejo

Ilda Januario
Doutora em Literatura

Teve lugar a abertura da Semana Cultural da Casa do Alentejo e o serão primou pela arte: a pintura de Joaquim Rosa e os livros de David Machado. É sobre David que falaremos e do debate que se seguiu à excelente apresentação do seu novo romance pela Prof. Luciana Graça da Universidade de Toronto.
O livro DEBAIXO DA PELE explora o tema da memória por ela ser imperfeita e falível. David deu-se conta desse facto no dia em que leu um livro sobre os guerrilheiros espanhóis antifranquistas fugidos para Trás-os-Montes nos anos 1930, um tópico de conversas que tivera com o avô em criança. O livro dava uma versão diferente dos eventos, mas esse facto não o incomodou: “as duas versões são verdade”, uma pessoal, outra histórica.
Porque a memória é falível, preenchemos as falhas com a imaginação mas, sendo também ele autor de livros para crianças e pai de dois filhos (6 e 8 anos), sabe que a imaginação tem limites.
Neste novo romance, David usou como ponto de partida a violência no namoro. Em DEBAIXO DA PELE a tónica é posta nas memórias que se querem esquecer (mas que o corpo não esquece) e acordam a vítima a meio da noite com pesadelos e terrores. É um romance no feminino.
Há cerca de três anos o escritor deu-se conta que todas as suas personagens eram homens. Acredita que, enquanto romancista, é importante saber pôr-se nos sapatos de outra pessoa e sair dos seus limites, neste caso de género.
Ao tratar da violência no namoro, a parte mais difícil do livro foi entrar na cabeça da protagonista Júlia. O livro levou-lhe dois anos e meio a escrever ao contrário de O ÍNDICE MÉDIO DA FELICIDADE que completou em nove meses, um período de gestação em que deu à luz o protagonista Daniel que é a personagem dos seus quatro romances com que mais se identifica.
Quando acabou DEBAIXO DA PELE ficou satisfeito com o resultado mas viveu o pânico de as leitoras não se identificarem com o que escreveu. Para seu grande alívio, não foi o caso. As únicas duas críticas más que teve na imprensa vieram da parte de homens.
Aprecia muito o estado da adolescência por ser nessa fase da vida que se testam os limites impostos pelos pais e a sociedade em geral. Embora retroceder, quando ultrapassamos os limites, possa ser motivo de amadurecimento, também poderá tolher o nosso crescimento psíquico, especialmente quando esses limites são impostos pela sociedade e não pela própria (in)capacidade pessoal.
David Machado diz que a missão da literatura não é educar mas fazer pensar e refletir. Abunda a literatura infantil que pretende educar, podendo mesmo ser simplista e moralista. Pôr em causa uma personagem que faz asneiras é mais construtivo do que deitá-la abaixo. Um bom livro suscita mais perguntas do que dá respostas; um livro, como a memória, deve ter “buracos” no enredo para que o leitor os preencha com a sua imaginação e reflexão.
No domingo, dia 22, David Machado integrou um painel de escritores de várias nacionalidades no Sudio Theatre do International Festival Of Authors (IFOA) para ler e debater páginas do seu livro O ÍNDICE MÉDIO DE FELICIDADE, traduzido para inglês como THE SHELF LIFE OF HAPPINESS. Nos dias 23 e 24, David partilhou a sua escrita com os alunos das Universidades de York e de Toronto e, para concluir, de novo no IFOA, na Habourfront. Gostámos mesmo muito de o conhecer!

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